quarta-feira, 17 de junho de 2015

Jogos Imortais: Arsenal FC 1 Sport Lisboa e Benfica 3 (A.P.)

E cá estamos nós para o décimo segundo jogo imortal deste blogue... O Arsenal Benfica de 1991. Que jogo...
Era a entrada para a primeira Liga dos Campeões que estava em jogo... Isso e os milhões. O Benfica, depois de uma época de 1990/1991 com contrastes (provas nacionais e internacionais), entrava em 1991/1992 com um plantel ligeiramente diferente. As saídas principais de Ricardo e Valdo seriam colmatadas com a aquisição de dois soviéticos (Kulkov e Iuran) e por Schwarz (já cá estava há um ano mas passou mais de metade da época lesionado pelo que...). Não iria ser o mesmo mas mesmo assim o Benfica tinha um plantel capaz de fazer uma boa época!

Antes de chegar ao jogo com o Arsenal, o Benfica tinha despachado os malteses do Hamrun Spartans, com 0-6 (fora) e 4-0 (casa)! Coisa habitual nas primeiras rondas das competições europeias.
Depois vieram os campeões ingleses. O Arsenal FC (clube oriundo da classe trabalhadora como o Benfica) também tinha conquistado o título Inglês de maneira brilhante, batendo o ManU e o Liverpool. Era um adversário complicadíssimo numa fase tão inicial da prova.
A primeira mão foi um jogo sem transmissão na TV. Pelo que não tenho nenhuma recordação a não ser que o Estádio da Luz tinha muita gente, que Isaías marcou o primeiro golo aos quinze minutos e Campbel empatou três minutos depois.
Talvez as palavras de um adepto do arsenal sejam ilustrativas do que se viveu na velha catedral...
Parece que foi um jogo de média/baixa qualidade...
Os dois golos (Isaías já estava a ferver):
Um aparte, um tio meu que morava em Lisboa (trabalhou muitos anos na Teixeira Duarte - e durante muito tempo a catedral foi a segunda casa dele), contou-me uns tempos depois que infelizmente houve lá porrada com fartura por causa dos adeptos...

Com aquele resultado, o Benfica estava em maus lençóis uma vez que sofreu um golo em casa. A nível nacional, as coisas não estavam muito famosas porque tínhamos perdido com o Boavista (1ª jornada) e empatado com o Sporting (Em Alvalade - 4ª jornada), Estoril (5ª jornada) e Paços de Ferreira (8ª jornada)...

Três dias antes da partida, o Benfica empatou a zero nas antas (10ª jornada). Grande jogo do Benfica, boas oportunidades criadas, capacidade de sofrimento contra onze e contra doze... Com onze e com dez... Foi uma espécie de aquecimento para a partida da próxima quarta-feira, uma vez que Eriksson oleou bem a máquina.
Para o jogo de Londres, a direcção do Sport Lisboa e Benfica decidiu adocicar a vontade dos jogadores com um prémio extra:
Era importante para o Benfica conseguir entrar naquela fase da competição porque era bom para o nome do clube e para os... Cofres do clube.

Ao nível da equipa, Paulo Sousa, William e Rui Águas estavam lesionados, Magnusson era carta fora do baralho e José Carlos não era de confiança para extremos rápidos mas Eriksson era inteligente... 
Foi ao jogo
E armou uma armadilha aos ingleses!
Não foi nada disto mas...
Uma vez mais, utilizou Paneira a defesa direito (em vez de José Carlos que tinha jogado três dias antes) e Veloso era o pilar na esquerda. Kulkov um andarilho no miolo do meio campo: Andou sempre perto dos centrais (para precaver lapsos) mas de olho em cima de Paneira de modo a não deixar a equipa ser apanhada de surpresa. Thern (entretanto recuperado de lesão) era o coração ali bem no meio. Tinha Schwarz mais à esquerda e Rui Costa na direita e Isaías como uma espécie de segundo avançado misturado com box-to-box (tipo Enzo). Iuran era o desgraçado que andou ali 120 minutos a levar... Uma espécie de 5-1-3-1.

Falta escrever sobre os dois centrais. Paulo Madeira e Rui Bento (utilizados com muita frequência durante toda a época). Eriksson terá sido preponderante na preparação mental deles para as partidas (estou a contar com a das antas também), pois eles eram dois garotos da formação. Uma prova de fogo tremenda especialmente para Rui Bento (Paulo Madeira até afirmou que camisola do avançado do arsenal Alan Smith lhe chegava aos joelhos...). Mas dentro do que lhes era possível, fizeram um jogão, sempre aconselhados de perto pelo capitão Veloso e por Neno (que já tinha problemas nas saídas)!
No decorrer da partida, Eriksson ainda trocou Rui Costa (estreia na Europa do nosso maestro) por César Brito. O imperador das antas acelerou muito o jogo no prolongamento o que desgastou muito a defesa dos Gunners! Muito bem Eriksson...
E os fantásticos jogadores do Benfica.
Foi uma batalha elegante. O arsenal fez o típico jogo britânico: Bolas longas e muito cortadas para as costas dos centrais; Como os avançados ingleses tinham melhor cálculo do tempo de salto, o Benfica passou por momentos de alguma asfixia... E acabou por sofrer um golo aos dezanove minutos (já depois de terem enviado uma bola ao poste).
Mas Benfica reagiu. Os médios começaram a jogar com a bola no chão e a fazer transições mais rápidas e os remates surgiram... O interessante foi que o golo do empate surgiu de uma jogada à inglesa com uma pequena nuance: Em vez de uma bola para as costas da defesa, Veloso fez um passe para a terra de ninguém entre a defesa e o meio campo do arsenal onde estava Iuran que a endereçou para outra terra de ninguém entre a defesa e o guarda-redes... Sendo uma questão de rapidez, Isaías surgiu do nada como um foguete e enviou um torpedo para dentro da baliza de Seaman.
Jogo empatado a uma bola, a eliminatória idem, e tudo em aberto... A partir daí, o nível do encontro aumentou exponencialmente. Até ao final dos noventa minutos, o Benfica levou com mais duas bolas nos ferros e o Arsenal poderia nem ter deixado o jogo ir para prolongamento (Thank you Alan Smith). Mas o Benfica também foi forte e o Arsenal também sofreu... Tivéssemos um Iuran menos individualista, ou Isaías ter melhor pontaria ou o árbitro ter assinalado um ou mesmo dois penáltis.
No prolongamento, O Benfica, que se tinha resguardado mais das correrias, optou por um ataque mais posicional: Iuran e César Brito começaram a jogar em posições de extremo. Com isso abriram espaços no miolo da equipa do Arsenal uma vez que com o apoio de Paneira e Schwarz, quer os laterais quer os centrais do Arsenal, fixavam os olhos nos corredores laterais e abriam espaços no tal corredor central.
Os dois golos do Benfica são prova disso:
  • Ali pelo meio derivando de ambos os flancos. No primeiro foi Iuran que, a passe de Isaías, veio embalado do flanco esquerdo e arrastou três defesas consigo. Num momento em que perde a noção da bola, Iuran consegue ter a lucidez para ver Kulkov a chegar ali pelo meio (totalmente sem marcação) deixando-lhe a bola para a finalização sem piedade do russo. 
  • No segundo golo, é ver César Brito na direita, Iuran na esquerda e Isaías (com Paneira nas costas) a olhar para a baliza e ver uma pequena auto estrada... Excelente!
Foi um jogo do caraças...
Com uma entrega poucas vezes vista:
Ao nível do 4-4 em Leverkusen! Grandes jogadas, grandes falhanços, grandes golos. Enorme entrega... Tudo em nome do futebol.
O árbitro Aron Schmidhuber? Já escrevi sobre isso não?

As palmas finais dos adeptos ingleses, fizeram com que ganhasse um novo conceito futebolístico: Respeito. Algo que em Portugal estava em extinção nessa altura... Esta foi a primeira edição da Liga dos Campeões.

Os dados dos dois jogos:
A revista Benfica Ilustrado, escreveu o seguinte acerca desta eliminatória:
Na Inglaterra fizeram o mesmo:
Graham Weaver e Nick Hornby Dois gigantes Gunners.
A imprensa desportiva de Portugal parece que viu o jogo...
Isaías e Kulkov, em 2012, recordaram o jogo desta maneira.

Fica aqui um resumo da partida.
E Pluribus UNUM

PS: Quer a camisola e o galhardete, foram oferta de um grande amigo que conheci um ano antes desta eliminatória. Ele, um die-hard Gunner, acabou por se tornar ao longo dos tempos um Benfiquista mas nunca deixando de ser Gunner. De muitas recordações, lembro-me do pedido de informações sobre o Schwarz (quando ele se transferiu para Highbury) e do seu desgosto da eliminação do Benfica frente ao Parma em 1994 (taça das taças)...

Este artigo é dedicado a ele... Uma amizade com vinte e cinco anos! Fly Like a butterfly and Sting like a bee SB.

Última revisão: 27/07/2018.
E Pluribus UNUM

2 comentários:

  1. Um dos jogos míticos da nossa historia. Esse plantel era excelente,mas desiquilibrado,pois se no meio campo e no ataque éramos fortes,a nossa defesa estava privada de um patrão como tinham sido Ricardo e Mozer. Aliás nesse inicio de época,Eriksson queixou-se que lhe tinham prometido uma dupla de centrais composta por Geraldão e Ricardo e depois teve que recorrer aos jovens Paulo Madeira,Rui Bento e Valido,apoiados na maior experiencia de William.Mas recordar um jogo espetacular como este,e relembrar craques como Isaías,Paineira,Rui Costa,Thern,Schwarz,Kulkov ou Yuran,sem esquecer o grande capitão Veloso,é voltar aos tempos do Benfica da minha juventude.Como já referi,aparte da falta de um patrão na defesa,tínhamos prata da casa(Rui Costa,Paulo Sousa,José Carlos,Valido,Rui Bento,Paulo Madeira ou João Pires),gente experiente (Silvino,Neno,Veloso,Paneira,Hernani,Aguas ou César Brito)e estrangeiros de grande valia(William,Isaías,kulkov,Yuran,Thern,Magnusson e Schwarz).

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  2. Bateu uma saudade ver ali o King no resumo.
    Saudações gloriosas
    vito g.

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Ok digam o que bem entenderem.
Depois eu vejo